Essa é a continuação do primeiro post sobre o tema. Então se não leu, dê uma bisoiada antes.
Em junho de 1976 a IBM anuncia a fabricação, no Brasil, do seu modelo mundial de minicomputador, o Sistema /32, com a expectativa de competir nesse segmento com as
vantagens de um produto nacional, mas acabou batendo de frente com os minis de empresas nacionais, protegidas pelas leis de informática, e após mais de um ano de embates políticos, a IBM não teve a fabricação do /32 autorizada por aqui. Pouco tempo depois de ver seu plano para o S/32 cair por terra, a IBM obteve permissão para produzir na fábrica de Sumaré-SP alguns modelos da família S/370, especialmente configurados para o mercado brasileiro. Novamente, o mainframe expandia suas raízes no Brasil
Em 1977, começa-se a ver alguns resultados da política de restrições à importação, com o surgimento de empresas nacionais como LABO, SID, EDISA e SISCO, todas privadas, criadas a partir de tecnologias licenciadas por empresas internacionais e com o compromisso de desenvolvimento local.
A partir de 1979, a intervenção governamental no setor foi intensificada, com a extensão de reserva de mercado para microcomputadores e com a criação da SEI (secretaria especial de informática), ligada ao Conselho de Segurança Nacional, que é desde então, o órgão superior de orientação, planejamento, supervisão e fiscalização do setor.
Em 1984 foi sancionado a lei nº 7232, fixou a Política Nacional de Informática e com a qual se oficializou a reserva para alguns segmentos do mercado, inclusive software, com duração limitada de oito anos. Com tais mecanismos de fomento, a informática nacional chegou a atingir taxas de crescimento de 30% ao ano em meados da década de oitenta. O país alcançou em 1986 a Sexta posição no mercado mundial da informática, sendo o quinto maior fabricante; além do Japão e do E.U.A., é o único país capaz de suprir mais de 80% de seu mercado interno.
Já sob o governo do general João Batista Figueredo, as políticas de informática sofrem nova revisão e é criada a SEI (Secretária Especial de Informática), submetida ao Conselho de Segurança Nacional, extinguindo-se a CAPRE. Como maior novidade, as diretrizes da SEI começam a fomentar a indústria de Software, e não apenas o Hardware, como até então.
A SEI segmentou a indústria em seis classes de computadores, de acordo com critérios de capacidade de processamento, memória e faixa de preço, sendo que as classes de 1 a 4, que englobavam desde os microcomputadores, equipamentos de escritório e até os super-minicomputdores, ficam reservados para a indústria nacional enquanto as classes 5 e 6, representados pelos computadores médios, grandes e super-grandes, ficam liberados para importação. De acordo com a classificação obtida pela SEI, os computadores IBM-4341 e Buroughs-6900 tiveram autorização para comercialização no país. A informatização ia de vento em popa nos setores público, federal e estadual, e bancário. E foi justamente nesses setores que o mainframe se estabeleceu e isso persiste até hoje.
Numa rápida avaliação da situação do mercado brasileiro em fins de 1981, os números se mostravam muito animadores em todos os segmentos, minis, micros, periféricos, representando a indústria nacional enquanto no segmento não-reservado, IBM e Burroughs também não tinham do se queixar. De acordo com dados da SEI de 1981, existiam 2800 mainframes instalados no país, entre IBM (45%), Burroughs (15%), HP (15%) e Honeywell-Bull (5%), Sperry Univac, Fujitsu também apareciam nas estatísticas. Esses números continuaram crescendo ao longo dos anos 80, chegando ao seu máximo no final da década e já começando a cair no início dos anos 90. Entre as empresas nacionais com a sua produção de minis e micros, a Cobra aparecia no topo das estatísticas, seguida de Labo, SID, Edisa, Sisco e várias outras de menor porte.
O Brasil começava a se firmar entre os maiores mercados de informática do mundo, depois de Estados Unidos, Japão e de alguns poucos países da Europa, mas ganhando posições sobre esses últimos. Nessa mesma época começam a surgir no cenário internacional, os computadores pessoais, liderados por Intel e IBM. Esse fato desencadeava uma nova corrida entre os fabricantes de computadores, abrindo uma nova era na indústria, popularizando a tecnologia e tornando-a acessível para toda a sociedade.
Surge um novo e gigantesco mercado, onde as companhias globais tem vantagem competitiva pela escala de produção e domínio da nova tecnologia. Novamente, as empresas nacionais se veem remando contra a maré. Aliado ao cenário da computação mundial, outros fatos começavam a influenciar a política de informática.
Devido à crise mundial de petróleo, a economia já não apresentava o vigor dos anos 70 e os incentivos do governo a indústria nacional começaram a escassear. No campo político, o governo militar começada a dar sinais de restabelecer os plenos poderes as instituições democráticas, permitindo o debate aberto em torno da política de informática. A sociedade começada a clamar por ‘ Diretas Já ‘. Ao longo dos anos 80, cresce o debate político no congresso em torno dos principais temas nacionais e a política de informática e’ um deles, quando em 1984 é anunciada a Lei de Informática, última tentativa do governo de impulsionar a indústria nacional com leis protecionistas e restrições para as grandes multinacionais.
A disputa partidária voltava com liberdade ao congresso nacional e colocava em questão a manutenção da SEI, que perdia espaço e que veio a ser definitivamente extinta em outubro de 1992, já sem forças de continuar lutando contra as leis do livre mercado. Sem entrar em maiores discussões políticas desses cerca de 20 anos de política de informática e a reserva de mercado, mas reconhecendo que o aspecto político foi predominante ao aspecto tecnológico e mercadológico, sob o angulo da penetração e estabelecimento do MF no mercado brasileiro, pode-se dizer que esse período foi muito frutífero para a adoção e expansão do MF no Brasil.
Apesar de todas as restrições ao capital e tecnologia estrangeiros, a IBM conseguiu transpor essas barreiras mais do que qualquer outra empresa de igual situação, soube encontrar as brechas das leis, soube posicionar o seu produto e soube cativar o mercado.
Durante esse período, o Brasil se tornou um dos maiores mercados mundiais de MF e isso lhe garantiu excelente retorno durante os anos de vacas gordas e gerou uma reserva técnica para os anos de vacas magras, que viriam logo a seguir.
Por outro lado, de todas as empresas nacionais que surgiram como resultado das diversas políticas de informática, apenas a COBRA se mantem até os dias de hoje, mas num modelo totalmente diferente daquele que foi originalmente concebido. A mais recente etapa do desenvolvimento da informática do Brasil teve início em 1990, com uma série de modificações introduzidas na PNI, com o intuito de adequá-la às políticas econômicas ditas “liberalizadas” de maior abertura ao mercado externo, postas em prática pelo governo Collor. Estas medidas de “flexibilização”, como foram chamadas, procuraram atender às reclamações oriundas de diversos setores industriais que protestavam contra o atraso tecnológico brasileiro e contra os altos preços provocados pela reserva; procuravam também atender aos interesses dos países desenvolvidos que chegaram a estabelecer sanções comerciais temporárias contra o Brasil, em virtude da falta de abertura do mercado nacional para concorrência comercial do exterior. Aqueles países exigiam também o fim do que consideravam violações de seus direitos tecnológicos, como a prática indiscriminada de cópia ilegal de equipamentos e de software.
O Brasil se fechou para o mercado internacional de computadores em 1976, no mesmo ano o Atari se tornava popular nas mãos do povo. Um azar e tanto para as crianças brasileiras, que demoraram a encostar em um, bom, pelo menos no original.
A única forma de conseguir um console original, como por exemplo, um NES fabricado
pela Nintendo, era através do contrabando, visto que os consoles, também classificados como computadores, tiveram sua importação proibida. E aí que entra o jeitinho Brasileiro. Se inspirando até demais no Nintendinho, a gradiente traz o Phantom System e a Tectoy o Master System, esses consoles tinham como objetivo suprir a necessidade de jogos eletrônicos para adolescentes e crianças. Mas essa não foi a primeira vez que isso aconteceu: em 1969, copiando as maquinas que vinham de fora, a Taito inicia a sua própria linha de montagem de computadores para fliperamas. Eles recriavam as que vinham do exterior com outros nomes, e são, praticamente, os responsáveis pela criação da “cultura gamer” no pais.
A ditadura trouxe com ela a falta de liberdade, coisa que também foi atribuída ao mercado. As regulamentações criadas tiveram seus bons e maus momentos: mesmo que o Brasil tenha avançado no quesito “informática”, fizemos muito sacrifício para chegarmos a esse resultado – sacrifícios que não tivemos a opção de recusar.
Vocês têm NES e Atari? Nós vamos fazer nossos próprios consoles – com outros jogos e cartuchos. Quando o Brasileiro foi impedido de pegar algo do lado de fora, ele mesmo começou a fazer. Isso tudo serviu para nos mostrar uma coisa:
Quando o Brasileiro quer, ele consegue.
Fontes:
[Artigo]História da Informática no Brasil nos Anos 60, 70, 80 e 90
[Artigo]Computadores no Brasil e Mainframes
[Documentário]Descubra como a pirataria e o jeitinho brasileiro explicam a cultura de games no Brasil
[Artigo]Ditadura Militar no Brasil – 1964 – 1985