Essa é uma crônica que fiz para um trabalho de português. Como acabei me dedicando muito a esse texto, resolvi colocar ele aqui ao invés de fingir que o mesmo nunca existiu.
A capa do artigo é a pintura “Still-Life with Coffee, Bread and Potatoes“, do pintor suiço Alber Anker.
Modus Operandi
Foi de repente, num café a tarde, que percebi que penso de forma diferente da minha mãe. A descoberta se deu através de uma conversa enquanto um menino da vizinhança ficava gritando na rua.
“Que inferno!” vociferou minha mãe com seu estresse típico
“Mãe, ele não pode te ouvir”, expliquei calmamente
“E o que tem? Não posso me expressar?” ela replicou
Tomei um gole do café forte e amargo, o preferido lá em casa, e a ideia veio na minha cabeça: eu e minha mãe pensamos de forma muito diferente, é outro modis operandi, sistemas operacionais incompatíveis. Claro, sou um rapaz de dezessete anos e ela já está na casa dos 40, mas acredito que isso, essa diferença, ultrapassa as barreiras da idade e do gênero.
No meu ponto de vista, a melhor coisa a se fazer diante dos gritos desprovidos de afinação era simplesmente agir como se nada estivesse acontecendo. Afinal de contas, e você tem que concordar comigo, ficar nervoso não faria o garoto adquirir bom senso e ir para casa espontaneamente. Continuei tomando meu café, quieto no meu canto, ciente que a situação era imutável (isso levando em conta que ninguém lá de casa iria brigar com o menino).
Minha mãe, ao contrário, sempre se estressou com esse tipo de situação. Talvez ela tenha que liberar seu ódio de alguma forma para que o mesmo não tome conta de seu corpo.
Eu e minha mãe pensamos de formas diferentes. Não fiz questão de aceitar esse fato, apenas permitir que minha mente absorvesse ele, assim como as situações da vida. Evito pensar muito sobre o caso, estou “ok” com ele. No final de tudo, me estressar com isso não vai mudar o jeito que a minha mãe pensa.