MC Loma foi uma daquelas surpresas que assustou e envolveu milhões de pessoas. “Envolvimento” foi seu primeiro single e alcançou os milhares de visualizações em poucas horas, com engajamento o suficiente para liderar as 50 músicas virais mundiais do Spotify, mas, pouco tempo depois, este lugar foi ocupado pela música “Black widows web”, da banda brasileira Angra com a Sandy e Alicia White-Gluz, que se tornou viral também por assustar o público, já que se tratava de uma banda de metal em um feat com uma cantora do que podemos chamar de… MPB?
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É bizarro pensar que uma garota de quinze anos, com um beat pronto e uma autotune zoado estaria competindo relevância com uma banda de power metal com mais de 20 anos de estrada, isso não é motivo de revolta e acusar a música brasileira de estar sendo desvalorizada, mas é algo para ficar surpreso, ficar assustado.
O susto foi o que fez de “This is America” um viral, a surpresa provocada não só pelas referências no clipe ou o significado por trás dele, mas também pela música em si, a letra e a mensagem, mas às vezes nem é necessário uma mensagem para impactar e causar esse susto, como é o caso de MC Loma e as gêmeas lacração.
As três músicas ganharam bastante relevância isso por utilizar do susto como meio para disseminá-las, esta é uma técnica que vem sendo utilizada até em exagero para promover, não só uma obra de algum artista, mas também uma marca através de um comercial polêmico por exemplo.
Existem pessoas que conseguem manter-se relevantes apenas envolvendo-se em polêmicas, é o que pessoas extremamente opostas como Felipe Neto e Nando Moura têm em comum, e mais uma vez, a culpa por isso tudo tornar-se relevante o suficiente para gerar discussões em diversos lugares é da internet.
Voltando a falar de música, sempre quando ouço “música+internet“ o que vem à minha cabeça é vaporwave, um gênero musical que se originou na internet e ao mesmo tempo serve como antídoto para a música comercial presente na mesma.
O movimento vaporwave tem um tom irônico e até mesmo satírico, muitos dizem que é um movimento nostálgico que quer reviver a cultura pop dos anos 80 endeusando o período, mas não, o vaporwave critica, de certa forma, como o que era tão excitante, “pra-frentex” e parecia ser algo que duraria para sempre, sumiu e ficou preso naquele exato período de tempo. É o que faz músicas como “Take on me”, “Never gonna give you up”, “Africa (by Toto)” serem músicas datadas, não há como ouvi-las e não associá-las à “música dos anos 80”.
A maioria das músicas de vaporwave são calmas e lentas e até mesmo repetitivas, podem te causar um certo desconforto, mas isso é intencional. O gênero surgiu em 2010, e dentre as música que estouraram no mesmo ano temos “Tik tok” da Ke$ha, “Bad romance” da Lady Gaga e Eminem com “Love the way you lie”, músicas com ritmos rápidos e BPMs altos. O vaporwave é um confronto à música comercial, eles demonstram isso usando comerciais e logos de marcas famosas antigamente e samples de músicas populares da década de 1980, atestando que as músicas que são relevantes agora serão datadas no futuro como músicas da década de 2010.
Logo, tudo que vem se destacando agora, como músicas do agora, ou a arte do agora, será esquecido, por mais que nos assuste agora. O susto mantém a relevância de muita coisa, mas a polêmica é algo que não segura as pessoas por tanto tempo. Vale lembrar de escândalos políticos ou de qualquer outra coisa que causou espanto ao ser noticiada e depois simplesmente foi deixada de lado pelo conformismo.
O vaporwave é uma forma de repensar o que nos faz dar tanta relevância a alguma coisa, como o próprio vaporwave, que, mesmo sendo intencionalmente insuportável de se ouvir, envolveu milhares de pessoas por simplesmente por ser algo famoso na internet.