O cotidiano na alucinação de Belchior e na pressão de Queen

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Em 76, Belchior lançou seu álbum “Alucinação”, que continha uma música de mesmo nome. Nela, o autor fala de como pessoas utilizam do escapismo para conseguir enfrentar o cotidiano e seguir em frente com suas vidas, como elas se afastam do real, ou simplesmente o ignoram, para torná-lo mais suportável.

Belchior prefere divergir disso tudo: prestar atenção nas partes ruins da realidade é necessário. Não que exista qualquer prazer nisso, muito pelo contrário: é doloroso, mas continua sendo necessário.

Belchior nasceu no Ceará, mas se mudou para São Paulo para encontrar uma vida melhor. Os problemas da cidade grande nunca escaparam de sua visão, e a música alucinação deixa isso muito evidente, principalmente quando falamos de trechos como:

Carneiros, mesa, trabalho
Meu corpo que cai do oitavo andar
E a solidão das pessoas
Dessas capitais
A violência da noite
O movimento do tráfego

O preconceito, pessoas trabalhadoras, os cenários das cidades, as pessoas abandonadas pela sociedade que se refugiam nos parques e dormem com jornais e papelões, isso não deveria ser motivo para nós querermos fugir, essas coisas deveriam ser de nosso interesse. É importante entender elas e não abdicar sua existência.

Ele termina falando da importância do amor: “Amar e mudar as coisas me interessa mais”. Quando você ama algo, você acaba tendo um interesse, acaba se importando, com essa coisa. Por isso amar e mudar.

6 anos depois, a banda britânica Queen lançava um álbum bem diferente dos seus anteriores: Hot Space. Ele chegou com influências da música disco, sintetizadores e baterias eletrônicas, o que não agradou muita gente. Mesmo assim, duas músicas dele fizeram bastante sucesso na época, e uma é muito exaltada até hoje, aquela com a participação especial de David Bowie: Under Pressure.

A letra dela também fala do meio urbano, de um cotidiano cansativo e dos problemas da cidade. O clipe da música até mostra coisas como desemprego em massa.

Ela também aborda os efeitos desses pontos negativos sobre nós. Eles trazem um tipo de loucura, que só pode ser curada com outro tópico também citado por Belchior em Alucinação: o amor às coisas.

Vale lembrar que a Letra de Under Pressure foi escrita por David e Freddie, sendo que cada um escreveu a parte que canta, então temos um tipo de conversa entre os dois nessa parte final:

Insanity laughs, under pressure we’re breaking
Can’t we give ourselves one more chance
Why can’t we give love that one more chance
Why can’t we give love?

Give love, give love, give love
Give love, give love, give love
Give love, give love

‘Cause love’s such an old fashioned word
And love dares you to care for
The people on the edge of the night
And loves dares you to change our way of
Caring about ourselves

A pergunta de Freddie, escritor da primeira estrofe, é “por que não conseguimos amar?”, a qual David, autor da última parte, responde: “porque amar te faz se importar com as pessoas”.

Amar te obriga a se preocupar com aquele mendigo dormindo no canto da rua, amar faz você se importar com as pessoas ao seu redor. E é por isso que amar as coisas nos faz querer mudar elas. Por isso Amar e mudar.


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