A um tempo atrás, o JP, do nerdcast, disse que “gostaria de ir a uma livraria e comprar só livros que nunca ouvi falar, nem conhecesse o autor”. Pois bem, eu fiz isso a uns meses atrás, mas involuntariamente.
Ao me deparar com o livro Unidos, da Martina Cole, numa feira de livros (onde os maiores preços são R$ 15,00), fiquei impressionado pelo custo em comparação com o tamanho dele (na minha consideração, médio pra grande), a capa e as análises (a frase “uma leitura intensa”, da autoria do jornal The Guardian, destacada na frente). Resolvi comprar porque achei que poderia valer a pena.
No começo do livro, estava duvidando se realmente ele iria se pagar, mas aos poucos percebi que eu realmente estava enganado: ele valia bem mais que R$ 15,00.
Claro, não estou dizendo que é o melhor livro de todos ou que deveria ser vendido por R$ 100,00 (eu já acho 60 reais caro), mas sim que ele te conquista muito facilmente (se puder, compre no máximo por uns 30 reais).
Antes de começar a falar da história, gostaria de agradecer muito a editora Record, responsável por trazer esse livro para o Brasil, por ter feito uma capa totalmente diferente da original (que teria facilmente me afastado).
Temos aqui a história de Lili Diamond, filha indesejada e constantemente reprimida pela mãe e padrasto, a partir do momento em que ela encontra Patrick Brodie, um gangster em ascensão. Eles logo se enamoram e tem filhos, mas uma tragédia ocorre e ela é obrigada a cuidar deles sozinha, nu mundo de ilegalidade, traições, conspirações e ganância.
O tipo de ilegalidade cometida nesse mundo não é, pelo menos em primeira parte, aquela violência sem razão. Patrick Brodie e seus aliados conhecem as ruas e sabem o que fazer para serem respeitados. Ganham (muito) dinheiro em cima de venda de drogas, agiotagem, apostas, casas de prostituição e baladas.
Mas nem tudo são flores: a insegurança permeia cada aspecto da vida deles. Os inimigos são muitos e estão prontos para atacar a qualquer momento. O perigo é real e constante.
Pois bem, é nesse cenário em que a história do livro começa. Li em outra crítica que nenhum personagem é realmente cativante, e tenho que discordar isso. A autora faz questão de explicar o passado e as motivações dos personagens que importam, o que torna eles mais palpáveis e humanos, podendo fazer você gostar mais ou menos deles, dependendo das características.
Sem falar que ela cria muito bem essa atmosfera de perigo constante, sabe quando “remover ” ela e como utilizar isso para fins de narrativa. As vezes acontece de algum personagem ser introduzido só pra morrer no próximo parágrafo de alguma forma bem violenta e banal, as vezes acontece de você achar que está tudo bem e alguém acaba levando um tiro na cara. O que me lembra um pouco Tropa de elite, o personagem simplesmente morreu e pronto.
Tudo isso contribui para um “ecossistema” do crime muito bem organizado. Você tem as regras não impostas (como não atacar crianças, idosos ou civis), grandes personalidades do crime, formas de ganhar dinheiro, pontos de comando, táticas para enganar o estado… Tudo isso aparece no livro, deixando seu universo bem mais real.
E aí tem… A família. Como é dito na sinopse, algo inesperado acontece com Patrick Brodie e a protagonista tem que cuidar dos filhos sozinha. O tempo passa, eles crescem, e vemos como cada um se vira nesse mundo. Os primeiros filhos do casal já estão adultos, mas também temos adolescentes e crianças. Gosto dos personagens que tiveram o luxo de possuir uma personalidade, já que alguns ficam de escanteio (crianças precisam de personalidade?), e é interessante ver como cada um orbita em relação ao outro.
Ah, mais uma coisa. Mesmo não sendo o objetivo do livro, ele me fez ver a velhice como nunca antes. Acompanhar a personagem principal envelhecendo me fez perceber que, quando se é velho, você não vira outra pessoa, é apenas a mesma pessoa de agora com algumas limitações extras. Mas você ainda é… Você.
No fim, Unidos é um livro que fala das relações interpessoais, e nesse âmbito temos relações entre parceiros de negócio, de parentes, de amantes, de inimigos, etc, e do mundo do crime, quem o comanda e o que os levou até lá.