Tá, esse é mais um daqueles posts com uma música que ninguém conhece de uma banda que ninguém conhece, talvez eu ainda faça um post ressaltando o quão importante é você não levar popularidade de uma banda como regra para ouví-la ou não, afinal, “Pursuit of misery” é uma música de uma banda com 140 mil ouvintes mensais no Spotify, enquanto Los Hermanos tem mais de um milhão, e ninguém aqui vai conseguir me convencer que Los Hermanos sequer é uma banda (Nessas horas a gente entende o Chorão).
Mas enfim, vamos falar sobre a melhor música que foi produzida nos últimos 10 anos e você nem ouviu. “Pursuit of misery” é a sétima faixa do álbum Trespassers, lançado em fevereiro de 2010 pela Kashmir (Sim, eu sei que você se lembrou da música do Led Zeppelin, e eles também, mas acredite se quiser, a banda já chegou a se chamar Nirvana), banda dinamarquesa que podemos classificar como um “Radiohead que não dá sono” (digo isso como fã realista da Radiohead).
Para começarmos a discutir sobre a perseguição da miséria, ouça essa música e pegunte a si mesmo, onde ela estava nesses 9 anos.
1. Feito por você
(O clipe)
O clipe inicia-se com uma tela preta onde aparece o título da canção com uma versão minimalista da capa do álbum Trespassers, em seguida aparece o texto “Feito por você(s)”, pois se trata de um compilado de vídeos dos fãs da banda segurando uma folha com uma seta laranja e outra azul, a tal versão minimalista de Trespassers. Não há muito a se retirar do clipe, além de ser bem bonito é claro.
2. Os pecadores menos esperados
(Contexto no álbum)
Podemos dizer que os “invasores” estão presentes nas letras de “Intruder”, “Mantaray”, “Bewildered in the city” e “Danger bear”
Entra o intruso / Nosso convidado menos esperado / Ele anda na ponta dos pés como uma puma / E nos encontra no nosso melhor.
Já os pecadores/transgressores são mais presentes no restante do álbum inteiro, podemos ver isso em trechos de “Mouthful of wasps”, “Time has deserted us”, “Still boy”, “The indian (that dwells in this chest) e, é claro, “Pursuit of misery”
Eu tenho medo de admitir todas as coisas que me arrependo / Agora está dito / Embora a imagem que passa pela nossa janela tenha mudado / É difícil mudar
3. Bonito demais, bicho!
(O instrumental)
Basta uma batida na caixa da bateria para marcar o início da música, onde entram todos os instrumentos já de cara. Vale destacar o riff inicial da guitarra e os vocais de Kasper Eistrup que são geniais, sobretudo num dos refrões mais lindos que você ouvirá. Resumindo: Não há palavras para descrever a gama de emoções que o instrumental dessa música provoca, e poderia ser só isso que já era o suficiente, mas a música ainda nos entrega uma mensagem um tanto quanto curiosa.
4. Trancado para fora do paraíso
(A letra)
A letra da canção é uma daquelas que parece ser apenas um punhado de frases sortidas, bem, isso para um ouvinte desavisado, como a maioria dos consumidores de música são (sejamos francos), talvez por isso alguém julgue uma música como essa como “sem sentido” ou “nada a ver”. Mas, ok, eu duvido que algo tão ostensivo não nos traga no mínimo algo para refletir, até porque, pelo que percebemos, se trata de um álbum que aborda questões filosóficas e se pá até religiosas, vamos analisar por trechos.
And the ring is golden / and the gate stands open / and the lilies of the valley
Eu sou a rosa de Sarom, o lírio dos vales
Apesar de na verdade este versículo ser parte de um cântico de Sulamita para Salomão, onde ela diz que é uma mulher normal e não há nada de especial nela, visto que tanto as rosas de Sarom quanto os lírios do vale eram comuns a toda Israel, e Salomão, no versículo 2, diz que ela é um lírio entre os espinhos e ressalva o quão extraordinária ela é para ele, existe um conhecimento errôneo coletivo de que seria Jesus Cristo que havia dito essa frase, Jesus é a rosa de Sarom e o lírio dos vales, o que não faz muito sentido, mas como esse é o senso comum, creio que este foi o significado que a frase traz na música, trouxeram Jesus para a letra. Há um simbolismo muito conhecido no cristianismo de que a igreja (que no caso são os próprios fiéis e não a instituição) é a noiva de Cristo.
Regozijemo-nos, e alegremo-nos, e demos-lhe glória, porque vindas são as bodas do Cordeiro, e já a sua esposa se aprontou.
Como sabemos, o anel dourado é o que sela a união entre as duas pessoas em um casamento, logo o trecho “e o anel é dourado” remete a este simbolismo, tal como “os portões abertos” que referem-se aos portões do paraíso.
Só para três frases já temos bastante coisa, mas basicamente vemos um cenário onde Jesus está à espera dos fiéis no céu para se alegrarem nas bodas do Cordeiro (que é o próprio Cristo, segundo João 1:19)
And the girl is more than shrewd / and this place is such a scoop / and the crowd looks up
And the crowd looks up / to your marble tower / to the jolts from your silver drum / to the sweets gone sour
Estamos falando do reino celestial, como dito anteriormente, logo neste reino há um castelo, levando em conta o 1º e o 2º livro de Reis, conta com torres onde ficam os “atalaias” ou sentinelas, que guardam o castelo, então a multidão olha para esse castelo aos solavancos dos tambores de prata.
Há uma passagem em Ezequiel que retrata a história de Satanás e como houve sua queda e tudo aquilo que vocês conhecem, mas há algo curioso:
Pela tua sabedoria e pelo teu entendimento alcançaste o teu poder e adquiriste ouro e prata nos teus tesouros;
… Em ti se faziam os teus tambores e os teus pífaros; no dia em que foste criado foram preparados.
You’re the perpetrator / you’re the escalator and / you’re southbound / so southbound / but never coming down
You’re a lunaroma / with a gloom diploma
And the crowd stands up / to the torch going out / to the song of a lemon flower / to the strong pursuits
Porque o nosso Deus é um fogo consumidor.
A flor do limão é algo muito frágil e é muito comum que elas caiam repentinamente pelo mínimo de descuido com o limoeiro, uma canção sobre ela seria uma canção sobre algo frágil, e nada é mais frágil que a própria humanidade, então essa canção seria sobre nós mesmos e tudo que representamos, sobre as fortes perseguições falaremos mais tarde.
Time won’t listen / time in time will make you listen
Antes de tudo, gostaria de dizer que acho essa frase sensacional, e é claro que abre para várias interpretações, mas o que tiro desse trecho é que o tempo sempre será nosso maior vilão, pois se há tempo para infringir e pecar deveria haver tempo para o perdão e para retroceder, porém nem sempre há tempo para isso, então talvez o tempo é o que nos torna pessoas ruins, pois não temos tempo o bastante para nos tornar boas pessoas, mas como o trecho diz, o tempo não ouve, por mais que reclame do seu tempo estar passando, isso não mudará nada, mas o tempo te alerta das decisões que está tomando e que sua vida está passando, fazendo você o ouvir.