Misticismo&Mainstream

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O ano era 2011. Eu estava na casa de uma colega com o resto do grupo do trabalho da escola. Ela estava com um jornal na mão e lia em voz alta o horóscopo de cada um, até que a mãe dela chegou e disse “que isso, filha. Cristão não acredita em horóscopo”. Ela largou o jornal. Fim.

Isso foi em um momento em que a internet, mesmo sendo fundamental para o mercado de ações e bancos, ainda dava seus passos iniciais no mainstream e no pensamento-comum da população. Por isso mesmo, era muito mais difícil encontrar conteúdo “subversivo” como… Qualquer coisa religiosa que não fosse sobre o cristianismo. Na verdade, até algumas coisas relacionadas ao cristianismo eram tratados com uma aura sinistra. O livro de Apocalipse da bíblia era praticamente um grimório.

Mas os tempos mudaram e hoje… Eu não preciso falar sobre como é hoje em dia, né? Ao invés do horóscopo ficar guardado em quadradinhos toscos de jornal, agora é tratado com respeito (e um pouco de humor) nas redes sociais. E não importa se você segue a pessoa que pública o horóscopo ou não. Ele estará na sua timeline.
sempre.

Além de o acesso ter ficado muito mais fácil ultimamente, existem outros fatores para considerar. A nossa geração (lá vem) é “um pouco” obcecada com formas de se definir. Claro que outras gerações também tinham esse aspecto, não à toa o fenômeno das tribos se espalhou como fogo nos anos 90. A questão é que isso nunca foi tão introspectivo. Procuramos formas de representar nossas características ou mesmo descobrir elas. Além do exemplo mais óbvio, que é o horóscopo ocidental, temos um outro muito presente: testes do buzzfeed.
 Outro fator que contribui e, na minha visão, é o mais importante, é a individualidade do signo. Se você nasceu dia x no horário y, o seu mapa astral se refere à você e não lhe dá nenhuma diretriz do que não pode ou deve ser feito, ele te dá informações e só você pode escolher o que vai fazer com elas. Não é como na igreja, onde você tem uma lista de regras que deve seguir e tem que andar com o grupo da religião.

A astrologia está tão em alta que alguns costumes antigos estão retornando: o renomado astrólogo John Dee era conselheiro particular da rainha Elizabeth I, hoje a história se repete com o renomado? astrólogo Olavo de Carvalho  e o presidente do Brasil.

Mas não só o horóscopo está na moda! As bruxas estão voltando com tudo. Ou pelo menos é o que diz o jornal estadunidense Quartz o número de pessoas que segue a Wicca, crença que se baseia em um caldeirão de mitos pré-cristãos, vem crescendo de forma absurda nos EUA. Não à toa as bruxas e sua estética  nunca estiveram tão presente na cultura pop. Um dos seriados mais bem sucedidos da Netflix, Sabrina, fala justamente sobre uma adolescente envolvida com esse tipo de magia.

 E agora? A explosão de crenças como a Wicca não pode ser explicada com a mesma resposta para o horóscopo, uma vez que ela se assemelha um pouco mais com as religiões mais populares.
 Existem muitas coisas que devemos levar em conta. Mas acho que a principal é que ter o poder da magia em mãos é empoderador, pois você passa a ter influência sobre o mundo à sua volta. No Cristianismo, assim como no Islã, você pede que uma entidade maior interceda por você, o que não quer dizer necessariamente que ela vá te atender (de acordo com as crenças da própria religião). Já com a magia (deixando claro que existem os mais diversos tipos), através das ferramentas disponíveis, você é o catalisador daquela mudança, daquele efeito no mundo… Mas essa a visão de uma pessoa que teve um contato muito superficial com a Wicca.

O que vocês acham?

Alguns textos interessante para ler após esse:

[BBC] “‘Quiseram fazer meu mapa astral para a entrevista’: quando o signo vira critério para conseguir emprego”
[O Globo] “Astroinfluencers: a nova geração de jovens astrólogas que faz sucesso nas redes”
[VICE] “Seria a astrologia a religião da nossa geração?”
[Ig] “Sol em crença, ascendente em negócios: astrologia como mercado”

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