A acidez de Aqualung

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Autor

Capa do álbum Aqualung: um mendigo com roupas longas, cabelos bagunçados e barba grande sorri enquanto coloca a mão dentro do casaco numa rua suja
Capa do álbum
Aqualung (1971), Jethro Tull
______________________________
Lado A:                       |
1.  Aqualung (6:38)           |
2.  Cross-eyed Mary (4:09)    |
3.  Cheap Day Return (1:23)   |
4.  Mother Goose (3:53)       |
5.  Wond'ring Aloud (1:56)    |
6.  Up to me (3:16)           |
Lado B:                       |
1.  My God (7:13)             |
2.  Hymn 43 (3:19)            |
9.  Slipstream (1:13)         |
10. Locomotive Breath (4:26)  |
11. Wind-up (6:04)            |   
______________________________|
Duração total: 43 min 
Gravadora: Chrysalis Records
Gêneros: Rock Progressivo, Folk Rock;


 Jethro Tull faz um rock progressivo diferente. Sim, eu sei que esse é o ponto do movimento. O que estou querendo dizer é que o tipo de história contada nas primeiras duas músicas de Aqualung é totalmente diferente do tipo de história contada, por exemplo, no álbum The Wall, do Pink Floyd. Pra falar a verdade, Cross-eyed Mary faz o sofrimento da história contada pela banda de Roger Waters e David Gilmour parecer problema de gente da classe média (e talvez seja mesmo).
 O álbum pode ser divido em três partes, mesmo que só tenha lado A e B. Se bem me lembro, a partição por temas seria assim:

Crítica social foda{

1. Aqualung
2. Cross-eyed Mary 
10. Locomotive Breath 
}

Biografia {

3.  Cheap Day Return 
4.  Mother Goose 
5.  Wond'ring Aloud
6.  Up to me   
}
Religião {
1.  My God
2.  Hymn 43
9.  Slipstream 
11. Wind-up
}
 

 Essa divisão é o motivo dos autores insistirem que “não se trata de um álbum conceitual”, mas isso não impede que os temas sejam repetidos entre as músicas.
Contendo temas como moradores de rua e prostitutas menores de idade, Aqualung tem um aspecto ácido, como se existisse alguma culpa em estar ouvindo ele. As coisas são ditas sem pudor, mas sem exagero, deixando um espaço para ambiguidade.
 Na primeira música, conhecemos Aqualung e a agonia de viver na rua. O frio do inverno, uma dor na perna, a loucura, tudo isso enquanto ele encara meninas com um olhar malicioso.
Na segunda música, já conhecemos outra personagem: Cross-eyed Mary (ou Maria Vesga, segundo a galera do CMM). Uma garota que sai com homens ricos e faz abortos clandestinos. Na letra diz que ela ajuda os homens pobres a seguir a vida (e existe uma discussão se ela faz isso dando dinheiro ou oferecendo seus serviços gratuitamente). Lendo a letra, você pode pensar “ok, nojento”, mas essas coisas não deixam de ser reais, você pode ter certeza que existe algumas Marias vesgas pelo mundo. Aqualung nos faz encarar essa realidade.

Abrindo um parêntese musical, o som do álbum é bem consistente. Você pode dividir ele em quatro blocos:

[Bateria], [Baixo/Teclado], [Guitarra/violão] e [voz/flauta]

Claro que, se tratando de um álbum progressivo, vão existir alguns momentos em que essa “regra” é quebrada, como em Cheap Day Return, onde o violão é acompanhado de um breve riff de guitarra.

O que vemos nessa segunda parte é uma coisa mais pessoal, algo vivido pelo autor. Não do tipo “minha infância foi assim” ou “como virei músico”, mas sim “esses dias tava andando na rua e pensando numa coisa…”. Até por isso são músicas mais calmas e serenas. A flauta tem uma presença marcante em Up To Me com seu ritmo mais acelerado.

Já a parte da religião é bem o contrário. É onde o escritor simplesmente destila o ódio que ele sente da igreja. O colonialismo que e as pessoas que ‘matavam em nome de Deus’ deixaram a cruz marcada de sangue. A hipocrisia dos religiosos e da igreja, que moldam Como na música My God: “He is the God of nothing / If that’s all that you can see / You are the God of everything / He’s inside you and me“. Tem várias críticas que são feitas ainda hoje em dia

Oh Jesus, save me!

 Aqualung, ainda que seja um álbum delicioso, deixa um gosto amargo. Se bem que talvez isso seja o que torna ele tão interessante. De qualquer forma, é sempre bom ver um álbum de uma banda (então) iniciante ser tão bem executado e bem sucedido. A melhor parte é que, apesar da insistência dos membros do grupo, todo mundo falava que era um álbum conceitual. A Jethro Tull falou “foda-se” e lançou um álbum conceitual em seguida – sobre um garoto que é expulso da escola por vender revistas com material pornográfico ou algo assim. Ingleses, né?

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